sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Pelas telas do cinema

Bem, adoro ir ao cinema. Não sou nenhum entendido, mas os filmes de que gosto (como os livros e as pessoas) costumam marcar minha vida, e minha memória jamais os deleta. Embora DVD's, homes, computadores e demais,  para mim nada se compara a pegar uma fila, comprar o bilhete e sentir o cheiro de pipoca. É como entrar num local onde o tempo não passa.

Na primeira vez , eu podia ter uns 8 ou 9 anos.  Fomos eu, meu pai e meu irmão Marcio assistir uma das muitas produções de Didi Mocó, chamada Simbad, o marujo trapalhão. Não tenho lembranças das trapalhadas do filme, nem das do seguinte, que assistimos eu, minha mãe,  meus irmãos Marcio e Ana  e umas primas. Mais pastelão ainda, de nome Quando as metralhadoras cospem (a Judie Foster participava, era menina. Afinal -é mole- estamos na década de 70).

Mas é do próximo filme que guardo maiores recordações. E emoções. Tudo bem, é uma produção de 1955 (ave São Google!), e por volta de 1977 reprisou em alguns cinemas de São Paulo. Meu pai contou que na primeira exibição, o  povo fazia até fila. A avenida Celso Garcia era cheia de salas de cinema e os homens iam de terno assistir ! O filme,  chamado Marcelino Pão e Vinho, assistimos no Cine São Geraldo, que ficava ali na Penha.  As companhias fiéis, meu pai e meu irmão. O menino-ator-protagonista, bem, tive que apelar de novo para São Google: Pablito Calvo. Como a Shirley Temple e talvez a Mariza do SBT, teve fama criança, e depois sumiu.

O filme conta uma lenda franciscana, de um órfão adotado por frades  na Espanha. O menino inventa um amigo imaginário chamado Miguel, para se distrair. Apronta com os frades suas traquinagens infantis e se torna o xodó do mosteiro. Fuçando no sótão, Marcelino encontra uma estátua em tamanho natural de Jesus na cruz; experimenta conversar, o Senhor responde; o menino se assusta primeiro, perde o medo depois e passa a desviar pão e vinho dos freis para o novo amigo. Depois de muitas conversas, na final Marcelino pede (e Jesus concede): quer concretizar seu sonho de ir de encontro a mãe,  no céu...  Deitado no colo do Senhor, fecha os olhinhos e ... fim. Os frades vêem a cena escondidos e ajoelhados se benzem diante do milagre. A história se espalha e o mosteiro vira lugar de romaria, o povo quer  ver o túmulo do menino que foi embora com Jesus.

Simplizinho né ? Mas não me esqueço da emoção que senti naquele dia. Foi o primeiro filme que me impactou daquele jeito, em que a gente sai do cinema diferente.  Com o tempo, Francisco de Assis e a espiritualidade franciscana se tornaram referência para mim, e hoje penso que tudo começou com a mãozinha de Marcelino, estendendo o pão a Jesus. Aquilo ”grudou" na minha memória e depois de tantos anos, ainda mexe com meu coração.  Simplicidade, pequenez, confiança... É isso, direto das telas do cinema.

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