sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Willians e as marcas da fraternidade (repostagem)

Há uns 11 anos atrás, adoeceu meu amigo Willians. Lembro-me bem de chegar ao Centro numa segunda-feira e encontrá-lo dobrado sobre a escrivaninha, com dores fortes no abdômen. Seguimos para  a Santa Casa, o médico receitou Buscopan  e mandou-o embora (Ele não estava muito inspirado, coitado – depois me disse o Willians). Na madrugada a dor voltou mais forte, a família o conduziu a Santa Casa novamente e aí, num período de algumas melhoras leves e um retorno para casa - seguido da volta ao hospital -  meu amigo caminhou resignado  até o dia 01 de novembro de 2000, quando faleceu, aos 42 anos de idade.
Embora a fé que suaviza as perdas, senti demais a sua partida. Willians se tornara uma referência para minha conduta, mais do que um amigo, quase um irmão mais velho. Caminhávamos muito e conversávamos mais. Pude lhe falar de coisas que só se fala com cúmplices. Pisamos no barro, batemos nas portas, compartilhamos da vida de quem sofria, pudemos rir juntos muitas vezes e chorar tantas outras.  Tivemos a honra, como ele mesmo dizia de algo fazer pelo nosso semelhante, embora nossa própria pequenez.  Rodeados de outros amigos, ensaiamos partilhar a existência, numa fase que marcou minha vida para sempre.
Claro que não estou aqui a canonizar ninguém.  Mas posso dizer que seu lar de portas abertas me ensinou um pouco sobre o valor da fraternidade humana.  Descobri que podem ser poucos, mas certos amigos são como marca-páginas no livro de nosso coração, a indicarem o nosso melhor, a lembrar-nos de buscar nossa própria essência. Quando ele estava internado, sem muito que fazer a não ser orar, eu lhe escrevi um pequeno ensaio, intitulado Prá me sentir teu irmão. Era um resumo amador sobre idéias franciscanas, que amávamos com o coração conectado. A esposa leu – ele ouviu, de cama. Foi minha forma de demonstrar o tanto que ele fizera por mim sem saber, como somente fazem aqueles que passam pela vida e deixam marcas de paz e de bem na alma dos outros, por serem o que são. Um pouco de meu amigo permanece vivo em mim.
Parafrasear Francisco é uma indecência de minha parte, mas peço a licença poética e como o Poverello exclamou um dia,  ao conhecer Frei Egidio, creio que também eu possa dizer : “Quem me dera. Quem me dera  tivesse eu um bosque de willians !!”
 Até já. Em algum momento, no tempo que passa, ainda nos veremos, caminharemos e conversaremos um pouco mais.

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